Fez do arroz de pato uma "ode fumegante" para americanos

Em pouco tempo, os seus pratos, reinventados a partir da cozinha tradicional portuguesa, ficaram famosos e o seu restaurante, em Manhattan, virou lugar da moda.
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Pela boca se conquista também a fama. O provérbio surgiu agora, inspirado no percurso de um jovem luso-americano, que reinventa a gastronomia tradicional portuguesa na cidade de Nova Iorque. O chefe George Mendes, em menos de um ano, tornou o seu restaurante uma referência e viu o seu elogiado arroz de pato aparecer com outro nome nas revistas da especialidade.

Um crítico gastronómico da New York Magazine, com certa arte para a metáfora, provou o arroz de pato de George Mendes e ficou deveras encantado. E manifestou assim esse contentamento: "É uma ode fumegante, crocante, cheia de texturas", de sabor "à moda antiga e caseiro". Eis a especialidade do restaurante Aldea, no centro de Manhattan, que aparece na referida revista como sendo uma "criação do género paella".

Como se vê, a ignorância dos americanos, mesmo entre os especialistas na matéria, sobre a gastronomia portuguesa parece imensa. Mas os sabores de George Mendes depressa iludiram essa barreira. Na edição de 2010, a New York Magazine apontava o Aldea - que abriu portas um ano antes - como um dos 50 restaurantes a não perder na cidade. Entre outras coisas, pela qualidade do seu arroz de pato.

E o nome de George Mendes emergia da obscuridade. Após o seu restaurante ter ganho a primeira estrela Michelin, o luso-americano é um dos chefes seleccionados para a terceira edição do reality show "To Chef Masters". Antes da participação televisiva, é nomeado - sem contudo vencer - para o prémio de melhor novo chefe do ano pela revista Time Out.

Uma ideia aparentemente simples parece ser o segredo do sucesso. "O que fiz foi pegar nas receitas de cozinha portuguesa que aprendi com minha mãe e experimentar até poder assinar o que é o meu estilo". Ou seja, George Mendes recupera pratos como o arroz de pato, guisados ou assados, receitas antigas da culinária portuguesa, e fez depois uma "interpretação" pessoal.

A viagem por sabores diferentes, revela numa recente entrevista, tem início em Portugal. Mas não se esgota nesta geografia. "Começo com um ingrediente que tem história em Portugal, depois gosto de viajar. Tenho grande apreço pela cozinha japonesa, do Vietname, das antigas colónias portuguesas, como Macau e Goa".

Natural de Danbury, Connecti- cut, o luso-americano estudou no Culinary Institute of America e estagiou em restaurantes em No- va Iorque, Paris e Washington. Em 2003, mais um estágio, agora em restaurantes espanhóis de três estrelas Michelin: Berasategui e El Bulli. No regresso a Nova Iorque, o luso-americano é contratado como chefe de cozinha do Tocque- ville.

Este ano, George Mendes esteve presente na quarta edição do "Peixe em Lisboa". Além dele, o evento gastronómico lisboeta teve a participação de mais dois jovens chefes de origem portuguesa. Nuno Men- des (a trabalhar em Londres) e Serge Vieira (em Franca), que mostraram a sua arte ao lado de nomes prestigiados como os do espanhol Sergi Arola e do italiano Gennaro Esposi- to, detentores de duas estrelas Mi- chelin.

Para se apreciar a "paelha" e as outras iguarias confeccionadas pelo luso-americano, no restaurante Aldea, em Manhattan, convém reservar mesa com vários dias de antecedência. Perante este súbito sucesso, o jovem cozinheiro pretende num futuro próximo expandir o negócio - que poderá, admite, passar pela abertura de mais um restaurante. Enfim, é a gastronomia de antigos sabores, reinventados, a abrir caminho na grande pátria do fast-food.

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